segunda-feira, 11 de maio de 2009

Novo projecto para o Terreiro do Paço


Foi apresentada esta semana a nova proposta para o Terreiro do Paço, ou Praça do Comércio, como preferirem. Projecto do Arquitecto Bruno Soares, tem sofrido alguma critica, como seria de esperar e sinal salutar da democracia e envolvimento social. As principais criticas debruçam-se sobre:

1- A limitação do acesso rodoviário à baixa.

2-A remoção da Calçada à Portuguesa.

3-O desenho do pavimento em Losangos.

4-O facto de o projecto não ter ido a concurso.

O jornal O PÚBLICO, avançou com uma peça sobre a proposta e na versão de papel apresenta também duas criticas paralelas, uma de uma especialista em Urbanismo, Margarida Saavedra, segundo o diário, do PSD, (esta informação é importante?) e outra de um conjunto de indivíduos.

Segundo a Vereadora, o desnível de 75 cm entre a Praça e a via marginal que separa o Cais das Colunas da plataforma, cria uma barreira visual que destrói a comunhão entre a cidade e o rio, e impede as pessoas que circulam na via marginal, e impede a visão a estes e aos que se aproximam da cidade por "Cacilheiro ou Navio de Cruzeiro". Bom esta critica parece-me totalmente descabida e leva-me a pensar se o facto de associar a opinião da especialista ao PSD, em mais do que uma ocasião terá sido de facto o principal objectivo da critica. A verdadeira barreira é a via marginal que impede os peões de circular livremente até ao rio, a questão da visualização da praça é absolutamente ridícula, senão vejamos: 75 cm é bem abaixo da cintura mesmo para uma pessoa de baixa estatura, a praça está rodeada por edifícios bastante altos e uma estátua de D. José de proporções generosas. O que acham que ficará escondido? Os únicos que não verão a praça tão bem serão os condutores, por se deslocarem sentados. No entanto para mim importa desfrutar de um espaço quando se passeia, devagar e não a fazer turismo automóvel. Quanto aos barcos, os Cacilheiros são baixos e não permitirão ver nada porque o nível da água é uns metros mais baixo que o nível da praça. Quanto aos navios a altura deles é bastante superior e passam ao largo o que faz o desnível de 75 cm parecer apenas uma linha no horizonte. 

1-A limitação do acesso viário à baixa não é um tema novo, critica-se essencialmente que o comércio será prejudicado e que a mobilidade na cidade será pior. No entanto em várias cidades na Europa se fechou o centro à circulação viária e o resultado foi o inverso. Ainda pensamos que somos veículo-dependentes nas cidades. Quanto à circulação exige um outro tipo de reflexão, nomeadamente a compra de casa longe do local de trabalho porque é mais barato ou por ter outro tipo de privilégios sem pensar no tempo que se perde em viagem ou fazer as contas e perceber que a longo prazo comprar uma casa na cidade é muito mais barato.

2-A remoção da Calçada no Terreiro do Paço, é vista por muitos como um atentado à cultura. Consigo compreender porque é que o arquitecto não escolheu a calçada portuguesa. Apesar de muito gabada, e com todo o mérito histórico, cultural e estético a verdade é que a calçada lisboeta funciona muito mal. Basta uma pequena inclinação para as pessoas escorregarem, especialmente se se tratar um passeio em curva ( inclinações e curvas é o que não falta à nossa cidade), numa cidade onde o número de horas e intensidade do sol são elevadas, o pavimento branco reflecte em demasia a luz o que causa imenso incomodo (É uma das razões pelas quais a calçada possui os desenhos característicos em basalto). O argumento que alguns cibernautas utilizam para desclassificar o projecto ( "arruinar o pavimento característico e histórico do Terreiro do Paço") não deixa de me surpreender porque se atender-mos à toponímia Terreiro refere-se a um local em terra, onde geralmente ocorria a venda de gado. A pedra de Lioz proposta não é característica também da região de Lisboa? E o Terreiro do Paço tem calçada de valor, com desenhos interessantes ou com expressão? A calçada aparece apenas nos passeios junto aos ministérios, de resto são placas de betão e antes de isso dominava o alcatrão.

3-O desenho do pavimento a mim não me diz nada, pode ter algum paralelismo nos azulejos, mas acho que é uma questão que não me incomoda nem me satisfaz de sobremaneira. É uma questão de gosto pessoal. Haverá sempre vozes contra e a favor.

4-O facto de o projecto não ter ido a concurso é escandaloso. Um projecto desta dimensão merecia a atenção dos profissionais a nível nacional e não de apenas um par de olhos por muito competentes que eles sejam. Acho ofensiva esta nova politica de adjudicações directas do Governo através das Sociedades que acabam por beneficiar sempre um grupo restrito de amigos de alguém. Está a acontecer com os Hospitais, com as Escolas e com a Frente Ribeirinha de Lisboa. As medidas tomadas este ano têm sido especialmente pro-corrupção ou pelo menos têm toda a cara disso, da fama não se livram. 

Enquanto Arquitecto Paisagista não concordo com a proposta de alguns de colocar árvores na praça (se o desnível de 75 cm tapa a vista imaginem duas dezenas de metros), para mais, a Praça foi desenhada para ter a amplitude que tem. As árvores teriam de se plantar no passeio, uma vez que foram alargados, de pequena dimensão, espaçadas e afastadas da fachada. A praça existe para dar expressão ao edifício e seria ignóbil cobrir as arcadas com vegetação. Houve uma proposta que achei interessante a colocação de laranjeiras em vasos. É um elemento típico formal que expressa uma imagem muito forte de controlo da paisagem em sintonia com a arquitectura iluminista.


 

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Estufa Fria Encerrada

A estufa fria é um espaço verde de referência na cidade de Lisboa. Espaço de traço romantico com caminhos sinuosos, múltiplos recantos, características que aliadas ao isolamento do jardim fazem as delicias dos namorados e turistas que com frequência o visitam (cerca de 60 mil visitantes por ano).

A estufa fechou no entanto esta semana por tempo indeterminado para renovação da cobertura que se apresentava em perigo de ruir, segundo Sá Fernandes, há dez anos.

A estufa foi implantada sobre uma pedreira de basalto, que se mostrou inapta para extracção devido à presença de uma linha de água. E foi aproveitado no fim do séc. XIX, para abrigar as plantas que iriam povoar a Avenida da Liberdade. Em 1926 o Arquitecto Raul Carapinha idealizou a estufa que seria aberta ao público 9 anos depois.

A cobertura da estufa é em madeira sobre uma estrutura de metal. A madeira funciona como elemento condicionador da luminosidade e isolante térmico. Esta solução foi utilizada recentemente nos Jardins Garcia d'Orta na Expo, sob a direcção da Arq.ª Cristina Castel-Branco, com o intuito de ambientar as plantas exóticas ao nosso clima. Segundo a Arq.ª, a cobertura de madeira neste caso é efémera e foi projectada para durar até as plantas estabilizarem.

Resta-nos aguardar que a recuperação deste espaço seja breve e bem sucedida. Deixo uma nota que achei interessante: A obra será paga com dinheiro proveniente do Casino de Lisboa.  

sábado, 18 de abril de 2009

Alteração ao Regime Júridico da RAN

A Reserva Agrícola Nacional (RAN) e a Reserva Ecológica Nacional (REN) são duas figuras criadas na década de 80 pelo então ministro do ambiente, o arq.º Ribeiro Telles, com o intuito de, no primeiro caso, proteger os melhores solos nacionais e no último proteger áreas sensíveis e de interesse ecológico estratégico. Foquemo-nos na RAN, o conceito é simples: As cidades fundaram-se onde havia maior fertilidade e disponibilidade de recursos. Quando as redes de transportes melhoraram e a afluência de pessoas à procura de trabalho aumentou a necessidade de espaço, os terrenos que serviam antes para alimentar a população, converteram-se em habitação, indústria e serviços. Lisboa foi construída sobre alguns dos melhores solos agrícolas do nosso país. A RAN veio impedir a propagação desenfreada sobre estes terrenos.

Mas isso impede as cidades de crescer e de servir os interesses da população?

Não. Quando as cidades crescem, aumentam o seu perímetro urbano e dentro do perímetro urbano, definido pela autarquia, a RAN pode ser convertida em terrenos urbanizáveis. Logo a RAN não é obstáculo ao desenvolvimento, promove até que as cidades cresçam de forma coesa, compacta, como está provado que é a melhor forma.

Mas e se no interesse de uma região, ou do país a melhor localização de uma determinada infra-estrutura se sobrepõe a um terreno da RAN?

Bom neste caso existe uma excepção, que se denomina “utilidade pública”, que classifica determinado projecto e permite a desanexação dos terrenos para que este possa ser executado. Foi um exemplo mediático a classificação do projecto da Pescanova na Câmara de Mira sendo apresentada como vantagem principal a criação de 300 postos de emprego no município. 
Porque é tão importante a RAN?

Imaginemos o seguinte cenário: A Europa entra em guerra, as fronteiras são fechadas, a circulação de veículos é limitada, não é nada de extraordinário no espaço de 50 anos tivemos duas grandes guerras. Só consegui obter dados de recenseamento a partir da década de 60. Constata-se um incremento desde essa altura até agora de mais de 1 milhão de pessoas na região de Lisboa, 1/3 da população vive aí. Como morador da cidade preocupa-me que Portugal importe cerca de 600 milhões de euros por mês em produtos alimentares e bebidas, se considerarmos que 1/3 virá para Lisboa, vemos que estamos dependentes do exterior em termos de alimentação, e mesmo assim Lisboa tem de ser abastecida pelo resto do país. Com as fronteiras fechadas e a circulação limitada é fácil de ver que estaríamos em sarilhos. Noutros tempos o cerco a uma cidade durava até as reservas de alimento terminarem, geralmente vários meses e até anos. Quando em 2008 ocorreu a greve das empresas de transportes, começou a haver algum pânico à medida que os alimentos desapareciam das prateleiras dos super-mercados em apenas alguns dias de paralisação. No caso de uma guerra, ou uma paralisação anormal prolongada é caso de perguntar há quanto tempo foi ao “Continente”?  

O que altera o novo regime da RAN?

O novo regime dá maior liberdade aos municípios para desanexar os terrenos da RAN. E isto é pernicioso porque às Câmaras interessa a construção, da qual obtém grande parte dos seus proveitos através de impostos. A RAN e a REN fazem parte de uma estratégia para salvaguardar os interesses da população, mas a verdade é que uma alternativa gera dinheiro a outra é um seguro. Se bem conheço o modus operandi dos nossos governantes irão em primeira instância desbaratar todos os recursos e depois virão os governantes seguintes desculpar-se da má gestão anterior para aumentar os impostos porque já não é possível pedir mais aos construtores e compradores.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Roubo à luz do dia

Acompanho discretamente vários blogs e sites de designers estrangeiros e nacionais, observando e aprendendo com admiração pelo trabalho criativo e a perspicácia das soluções. O blog da designer Rosa Pomar é um dos que visito de tempos a tempos, gosto das fotos bem tiradas, os recortes culturais, a imaginação fértil e agrada-me a sua capacidade de sobrepor tecidos, texturas, de forma brilhante, é inspirador. Lembro-me que o Arq.º Álvaro Ponce Dentinho desenhou na década de 70, se não me trai a memória, o pavimento de um espaço público a partir do estampado de um vestido da época.

Não é no entanto a qualidade do blog que me faz escrever esta mensagem. Todos sabemos que os fenómenos de globalização e produção em massa têm vantagens e desvantagens, que o comércio local e os pequenos empreendedores tem poucos argumentos para combater as multinacionais, frequentemente mais modernas, mais agressivas e com ideias frescas. Mas e o que acontece quando para além dos argumentos monetários as empresas plagiam, assaltando a propriedade intelectual e o último e mais precioso bem de um indivíduo ou empresa, as ideias? Foi o que aconteceu com Rosa Pomar que criou uma colecção de bonecas de tecido e que a Oiliy, uma multinacional holandesa plagiou ao estilo made in China, sem consultar a autora. Fica o apelo ao boicote à Oilily, que vende também em Portugal. Quem se sentir indignado com a audácia destes tipos tem o dever de enviar um e-mail à dita empresa, sendo que já houve quem tratasse de escrever um em inglês que pode ser encaminhado.

Para conhecer o relato na primeira pessoa e encontrar o tal e-mail é só clicar em http://aervilhacorderosa.com/blog/2009/04/ugly_oilily_1.html Aproveitem para dar uma vista de olhos no blog se ainda não conhecem. O blog d’ A Maçã Original passará a exibir o logotipo do boicote à Oilily como forma de protesto.

A génese do blog

A primeira morada do homem na terra foi o jardim, não um jardim qualquer, aliás nem sequer o que entendemos hoje como jardim, mas começa assim história Cristã da humanidade. O Éden, ou como indica a tradução grega, o pa•rá•dei•sos , paraíso, terá sido a inspiração, diria antes a aspiração do homem no desejo de criar a perfeição.

A ideia deste blog não é de todo enveredar pelas questões teológicas cristãs ou outras, mas falar de jardins, o que são, o que foram e que caminhos nos espera. A tentativa, espero que proveitosa, de desenvolver um blog prende-se com a minha necessidade de escrever, não porque o faça bem, mas porque me ajuda a memorizar, compreender e obter algum feedback de outras pessoas que usufruem dos espaços verdes, na esperança de aprender mais.

Gostaria de deixar espaço para outras pessoas, interessadas no tema, poderem explorar as suas convicções e ideias, e não limitar a intervenção exterior a comentários. Serão colocados também na barra lateral links com referência a pessoas e locais de interesse, com especial incidência no design e arquitectura. 

Vou deixar a semente crescer, ver como evolui, descobrir se são inevitáveis as enxertias e esperar para colher os frutos mais tarde. Sejam bem-vindos todos os leitores.